Por Carlos Brickmann em 02/04/2013 na edição 740
A notícia foi divulgada, mas sem grande ênfase. É provável que muitos maníacos por jornais ou programas noticiosos em rádio e TV não a tenham percebido. E, no entanto, o caso é grave: a Arcos Dourados, franqueadora principal da marca McDonald’s no Brasil, foi acusada de irregularidades trabalhistas e multada pelo Ministério Público do Trabalho em R$ 50 milhões, por “danos morais coletivos” causados a seus funcionários. Depois de conversar com a vice-presidente de Assuntos Governamentais da Arcos Dourados, Marlene Fernandez del Granado, a multa foi reduzida de R$ 50 milhões para R$ 7,5 milhões, e houve desistência da ação judicial. De acordo com o procurador Leonardo Osório, autor da acusação, “foi um acordo excelente para a classe dos trabalhadores”.
Agora, a dúvida: se a multa de R$ 7,5 milhões foi “um acordo excelente”, por que cobrar R$ 50 milhões? Ou o acordo foi mesmo bom e a multa era exorbitante, ou a multa era correta e o acordo não foi tão bom assim.
E como houve a redução da multa a 15% do valor anteriormente estipulado?
A vice-presidente da Arcos Dourados disse que a empresa – que opera as lanchonetes McDonald’s no Brasil e em vários outros países latino-americanos – estava operando “quase sem margem de lucro”, “apenas sobrevivendo”, a tal ponto que seus diretores estavam voando em classe econômica, não mais em executiva. Diante de tal sacrifício, a multa foi cortada pela metade. Mas a vice-presidente Marlene Fernandez del Granado continuou regateando: a empresa, que faturou quase US$ 4 bilhões em 2012, não teria condições de pagar os R$ 25 milhões.
Mas terá caído tanto assim a margem da empresa? Não: em 2012, o faturamento caiu 1% com relação ao ano anterior. Operar “quase sem margem de lucro” significou, em 2012, um lucro líquido de US$ 114 milhões. A expectativa para 2013 é de crescimento da receita líquida entre 15 e 18%.
Bom, a sra. del Granado propôs-se a pagar multa de R$ 3,5 milhões e, pouco depois, chegou a R$ 5 milhões, tudo em suaves prestações, num prazo de dez anos – além de concordar em corrigir as irregularidades apontadas pelo Ministério Público do Trabalho. Finalmente, chegaram a um acordo: R$ 7,5 milhões, à vista. As irregularidades principais (jornada móvel, que impede os funcionários de planejar seu tempo; e fornecimento de sanduíches à guisa de refeições) deverão terminar até o final de julho.
OK; mas alguém já tinha visto, nos meios de comunicação, algo a respeito da tal jornada móvel? Ou do fornecimento de sanduíches como se fossem refeições completas? Ou da ação do Ministério Público do Trabalho na correção das irregularidades? Não que nada tenha sido publicado, até foi; mas nenhuma notícia com o destaque que problemas numa empresa com 600 lojas e 42 mil empregados em todo o país deva merecer. Claro, bater num anunciante é complicado. Mas o compromisso principal da imprensa é – ou deveria ser – com Sua Excelência, o consumidor de informação. Anunciante tem de ser bem tratado, com água gelada, café fresquinho, biscoitinhos; eventualmente, conforme o horário, um bom uísque e alguns salgadinhos. Mas, se pisar na linha, deve (ou deveria) ser tratado como qualquer outra empresa: reportagem nele.
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed740_anunciante_tambem_erra